terça-feira, 28 de agosto de 2012

Mil anos ou mais.





'- (...) Devo ter envelhecido uns 30 anos nos ultimos 365 dias - média - caminho pelo nascer do sol, hoje menos azulado que na primavera, e o cheiro de cerragem misturado a terra é a unica coisa realmente perceptivel a meus sentidos cansados.
Não que carregue traços de expressão, meu rosto não mudou muita coisa, além de uma ou outra pinta que eu nunca tenha reparado ou alguma velha nova espinha, a minha mutação interior tem acontecido com uma velocidade assustadoramente maior que a fisica.
A mesmice vem trazendo um gosto azedo e tão pouco estimulante aos meus dias, onde estão as pessoas de verdade ? por que todo mundo tem essa insistencia maluca em querer complicar tudo ? - sim, eu me sinto velha - parece que ser jovem é a emoção de bagunçar tudo só pra se sentir em movimento organizando uma bagunça desnecessário, eu cansei disso.
Eu não preciso bagunçar o certo, o certo tá lá, com cheirinho de roupa limpa, tão confortador, pra que querer jogar poeira no ventilador só pra depois ter todo o trabalho de lavar tudo, passar, arrumar - talvez eu devesse me odiar por essa visão hoje, tão simples, tão 'pobre' de vida.
As dores fisicas vão cicatrizar, as psicologicas, não vão embora com um porre - ao menos nesse ponto, eu continuo jovem, não deixarei de beber - , eu coleciono sofrimentos, cada um num cantinho especial, foi aprendizado, foi o bonito que ficou feio, foi o sorriso que virou lágrima, foi a inocencia que virou maturidade, eu não abandonaria minhas dores, passei dessa fase, dessa fraqueza, não vou evitar me envolver por que  'se envolver é se machucar' - e daí se eu chorar um pouquinho? eu respiro fundo e começo de novo  - dor de amor não mata não, já o amor faz um bem danado.

O bom do amor é justamente o sorriso junto, o brilho no olho que faz inveja no povo de fora, aquele cheirinho bom do outro que prende na roupa depois do abraço, o bom do amor é ouvir a voz de sono e mesmo sabendo que a cena que se pinta não é nada bonita mesmo - tem o mal hálito matinal e as remelinhas nos olhos - ver nisso o maior romantismo do mundo, o bonito do amor é isso, fazer o ponto dos 'is' com coraçõezinhos, e carregar uma cara de bobo como marca registrada -
eu não me cansei dessas coisas, não me interprete errado, eu acredito no amor, e ainda tenho disposição a me doar eu só me cansei de brincar de pega-pega, de me conquista daqui, me perde de lá, essas coisas pela metade hoje em dia me dão uma preguiça, eu gosto da tempestade, hoje em dia essa coisa de chove não molha não tem graça nenhuma, cheiro de terra molhada, já basta o da água quando toca o solo, pra minha vida, eu quero emoção, ir aos pouquinhos é um tédio, se for pra isso, fico deitada na minha cama vendo o ventilador rodar, me apego a um bom livro, entro numa historia de amor que não é minha e vivo ela, por que eu sei que ali eu tô vivendo inteira - 
Eu não perdi a inocencia de menina, eu vou carregar o resto da vida o mesmo sorriso infantil de quem usa uma escova de dentes de bichinhos e pasta Tandy, mas envelhecer tanto, pra mim, significou amadurecer, e amadurecendo eu vi, que arriscar-se a brincar com quebra cabeças que faltam peças, é perder tempo sabendo que a figura nunca estará completa, e nesse tempo, bom, você sabe, talvez na outra esquina houvesse um já começado com todas as peças, novinho, esperando pra se montar ao seu.

Do que foi e do que restou, desenvolvi uma preguiça tremenda de tentar juntas peças que não se encaixam, é desgastante demais pra essa vida que tem muito mais a oferecer.