segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

'- (...) Controla-se quase tudo, é controla-se mesmo, o próximo passo, a próxima palavra, a esquiva a qual seguirá e se então a irá percorrer, controla-se beijos, abraços, passos e traços, quase temos todas as nossas atitudes na palma da mão, ainda que manter tanto controle iniba a própria espontaneidade, é possível, é passível, é racional, e limitado - sem duvidas.
Mas não controla-se subconsciente, não controla-se os sonhos, aqueles acordados tudo bem, talvez tenhamos o poder de ao recostar a cabeça no travesseiro desviar os pensamentos, até aqueles incessantes, persistentes, que não pensar já faz o próprio pensar, mais e quando os olhos se fecham, quando as pálpebras se encontram, e desenham uma imagem retilínea na memoria, você balança a cabeça, como se quisesse desfaze-la em fumaça, mais então vem o sono, vem o sonho, e os lençóis transformam-se então no fundo para que se escrever uma nova história, aquela que você não controla como pode controlar a velocidade de dedos e teclado, caneta e papel, que você não descreve o fim, o inicio o meio, ela simplesmente acontece como um filme que você ainda não viu, cada parte é nova, é inédita, as vezes acorda-se com a sensação que já se passou em algum lugar, em outras que você realmente queria ou viver ou esquecer, as vezes assusta, e por outras simplesmente não se lembra, desenha-se no rosto um sorriso que você não irá lembrar, o rosto acorda um pouco mais brilhante e você não sabe que sorriu por quase 8 horas seguidas, mais sente-se bem como se tivesse acontecido algo incrível, e você simplesmente não sabe descrever, bem vido a beleza do divino poder do imaginário.
Eu não sabia se era real, por instantes era realmente real, voltava a minha realidade com aquele 'oi' - eu estou aqui, suave como só você conseguiria dizer, com os mesmos olhos cor de mel me fitavam tão terna e fixamente que eu quase esquecia de tudo que já havia acontecido, era como o fim de um pesadelo e sonho num misto de sensações que desenhava sorrisos - o meu sorriso - o meu espanto, é você? isso é real ? sua mão continuava com o mesmo toque suave, o mesmo jeito de confortar com um toque, seu cabelo desenhava tão bem os contornos do seu rosto que eu sabia, não havia como confundir, me visitava em forma de anjo.
Sentia arrepios no corpo que gritava, 'me abrace' eu preciso sentir de novo o calor que só teu abraço, você sussurrava baixinho palavras quase impossíveis de se ouvir como se fosse o soneto de 'aproveite o momento', não sei se no fundo havia chuva ou música lá fora, meus ouvidos naquele instante só conseguiam ouvir o meu timbre favorito, olhos incrédulos mal avistavam as paredes de um quarto a meia luz, o brilho que vinha de você não cegava, só encantava, hipnotizava, se aproximou como em câmera lenta pra valorizar ainda mais as curvas do seu corpo que se moviam a uma velocidade lentamente tortuosa, e me matava em vontades em uma velocidade avassaladora, seu poder de sedução permanecia - intacto.
Eu não sabia naquele momento se ainda respirava - claro eu respirava, e muito e profundamente - mais mesmo sentindo a aceleração que se passava em meu peito, eu não sabia onde estavam minhas mãos, onde estava, eu mal conseguia sentir algo além do frio congelantemente quente que instaurava-se em meu estômago, como borboletas furta-cor - furta-sentidos, petrificavam minhas palavras que se fossem sair, sairiam saltadas, cortadas, em um sutil gaguejo próprio daquele nervosismo inquietante, como se devolve-se a mim, a meus instintos senti o encaixe perfeito daquele corpo que sempre me pareceu desenhado como encaixe do meu reencontrar e reaquecer, e por fim a camada de gelo que o tempo sem você vinha revestindo minha pele, eu tão pouco ciente da minha força, não me recordava a tempos de um abraço tão apertado, daqueles que falam, aqueles que dizem 'eu preciso de você aqui - 'não se vá'.
Eu sentia que o outro lado da cama não estava vazio, não era um travesseiro amassado era seu corpo ocupando o lugar que você não conhece e mesmo assim desde sempre foi seu, e como se houvesse mágica nos lençóis, tudo virou fumaça quando meus olhos se abriram assustados, te procurando do lado e constatando que o coração que saltava pela boca era reflexo dos sentidos que o travesso subconsciente vinha brincar de reafirmar a existência, com a morfina dos sonhos, vinha tranquilizar e cicatrizas cicatrizes expostas, achando-se confortador esquecendo, que toda palavra que termine em 'dor' não pode ser assim tão aconchegante
Em meus braços havia um travesseiro, a imaginação já havia parado de me fazer imaginar seu corpo e seu abraço, os lençóis bagunçados mostravam minha inquietação durante o desenrolar do momento, os traços do meu rosto, mostravam que eu sorria, era um cansaço diferente, era aquele que fica no rosto quando se sorri por muito tempo, não era triste, era bonito, era mágico, era sublimemente encantador, suspirar e então pensar, é seu sonho fanfarrão, eu bem sei .. ainda é amor, amor que ainda é.
E com olhos distante que fitavam o teto escuro, que a pouco tempo também fazia parte do cenário de um momento digno de fogos de artificio, me fizeram cair em mim, que tanto controle, é quase controle nenhum, por que por certo, nada nunca explicará a magia que é deixar a própria imaginação voar ao embalo dos nossos sonhos secretos.
E como se pra dizer, sempre fica tudo bem, o dia começou mais cedo, com um brilho azul-vermelho de nascer de sol, que te trazia um pouco mais da parte de você que nunca levou de mim. -

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Traços, relapsos.

(...) Cabisbaixa, chutava os próprios pés, fazia calor lá fora, mas não era no calor que ela pensava enquanto percorria a rua olhando o chão, procurava acertar os passos, entender o mundo junto com o compasso que esses iam seguindo, trazia as mãos no bolso, não havia pedrinhas na rua para se distrair vendo-as correr após um impulso de um chute qualquer, queria fugir mais isso era a parte mais complexa.
Relutava contra seus próprios fantasmas, tão apaixonada por sua solidão, ultimamente não conseguia controlar muito bem seus próprios pensamentos, e então ia assim, para quem vê de fora uma cena trivial, para ela, já era um grande sacrifício repetir ‘está tudo bem’ – é um pouco difícil usar o tempo bem, quando parece que tudo assusta um pouco.
Não era o globo terrestre sobre suas costas, ela que tanto se incomodava em não ter conseguido nada, por vezes queria se livrar desse tudo em termos de mundo que possuía, sentia falta da leveza do sorriso tranqüilo, de recostar a cabeça no travesseiro e não sentir medo, sentia falta de uma paz de antes, e sentia mais ainda em pensar, pensar, pensar e não chegar a conclusão nenhuma.
Gastava assim seu tempo vago, estive-se andando a toa, ou até mesmo com uma pilha de papeis a decorar seu ambiente de trabalho, vez ou outra os pensamentos lhe assaltavam a uma nova dimensão e ela ficava presa lá tanto tempo, que era inevitável não voltar de lá um pouco diferente todas as vezes, encontrava seus acertos e erros num mesmo ponto, e quando quase encontrava a solução pra tudo, mais uma vez sentia o medo de não acertar em nada.
Brincava em seu quebra cabeça de lembranças com a inocência de uma criança que traz preso atrás de tudo um belo sorriso sincero, analisa com críticos olhos adultos seus pesares e por vezes sabe que muito poderia ser diferente, aprendeu na pele que ‘se’ não constroem histórias, e aprendeu a dolorosa verdade da ação, reação e conseqüência, era dona de seus atos, mais por vezes não controlava seus pensamentos, e não controlando esses perdia então a essência de suas atitudes, e no final se perguntava simplesmente, até onde sou capaz? Quando quase desistia recuperava suas forças e no ápice delas sentia que precisava desistir, tão apaixonada pelas gangorras na infância, odiava esse sobe e desce que constantemente tomava-a em um todo.
E passaram-se então os menos de 300mts que a separavam de casa, ao abrir o portão não conseguia deixar pra fora tais pensamentos, algo deles já havia se tatuado nela, e lá ia mais uma vez, usar a sua mascara de quem não sente nada fingir que seus medos não existem.
Escondia meus medos em baixo das solas dos sapatos, mais sabia que era a só a próxima oportunidade em estar só, lá estaria ela, então sendo devolvida a sua dimensão em 3D - devaneios, desejos e desastres.