quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Traços, relapsos.

(...) Cabisbaixa, chutava os próprios pés, fazia calor lá fora, mas não era no calor que ela pensava enquanto percorria a rua olhando o chão, procurava acertar os passos, entender o mundo junto com o compasso que esses iam seguindo, trazia as mãos no bolso, não havia pedrinhas na rua para se distrair vendo-as correr após um impulso de um chute qualquer, queria fugir mais isso era a parte mais complexa.
Relutava contra seus próprios fantasmas, tão apaixonada por sua solidão, ultimamente não conseguia controlar muito bem seus próprios pensamentos, e então ia assim, para quem vê de fora uma cena trivial, para ela, já era um grande sacrifício repetir ‘está tudo bem’ – é um pouco difícil usar o tempo bem, quando parece que tudo assusta um pouco.
Não era o globo terrestre sobre suas costas, ela que tanto se incomodava em não ter conseguido nada, por vezes queria se livrar desse tudo em termos de mundo que possuía, sentia falta da leveza do sorriso tranqüilo, de recostar a cabeça no travesseiro e não sentir medo, sentia falta de uma paz de antes, e sentia mais ainda em pensar, pensar, pensar e não chegar a conclusão nenhuma.
Gastava assim seu tempo vago, estive-se andando a toa, ou até mesmo com uma pilha de papeis a decorar seu ambiente de trabalho, vez ou outra os pensamentos lhe assaltavam a uma nova dimensão e ela ficava presa lá tanto tempo, que era inevitável não voltar de lá um pouco diferente todas as vezes, encontrava seus acertos e erros num mesmo ponto, e quando quase encontrava a solução pra tudo, mais uma vez sentia o medo de não acertar em nada.
Brincava em seu quebra cabeça de lembranças com a inocência de uma criança que traz preso atrás de tudo um belo sorriso sincero, analisa com críticos olhos adultos seus pesares e por vezes sabe que muito poderia ser diferente, aprendeu na pele que ‘se’ não constroem histórias, e aprendeu a dolorosa verdade da ação, reação e conseqüência, era dona de seus atos, mais por vezes não controlava seus pensamentos, e não controlando esses perdia então a essência de suas atitudes, e no final se perguntava simplesmente, até onde sou capaz? Quando quase desistia recuperava suas forças e no ápice delas sentia que precisava desistir, tão apaixonada pelas gangorras na infância, odiava esse sobe e desce que constantemente tomava-a em um todo.
E passaram-se então os menos de 300mts que a separavam de casa, ao abrir o portão não conseguia deixar pra fora tais pensamentos, algo deles já havia se tatuado nela, e lá ia mais uma vez, usar a sua mascara de quem não sente nada fingir que seus medos não existem.
Escondia meus medos em baixo das solas dos sapatos, mais sabia que era a só a próxima oportunidade em estar só, lá estaria ela, então sendo devolvida a sua dimensão em 3D - devaneios, desejos e desastres.

Um comentário:

  1. Adorei o texto, vivo me sentindo assim :(

    Mas na vida tantos as coisas boas quanto as ruins, passam!

    Beijao

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